domingo, 10 de abril de 2011

Mídia encontra seu motivo para o massacre em Realengo

Na busca incessante por uma explicação para o massacre ocorrido na semana passada em uma escola municipal em Realengo, Rio de Janeiro, em que um ex-aluno matou 12 crianças e deixou outras tantas feridas, finalmente a mídia encontrou a motivação para o crime. Em matéria veiculada pelo Globo, os repórteres citam, a partir das investigações policiais e quebra de sigilo eletrônico, que o atirador Wellington Menezes de Oliveira, 23, postava em um blog "mensagens desconexas sobre religião e jogos como GTA e Counter Strike (CS)".

Até aí tudo bem, são informações adicionais sobre o acontecimento. No entanto, a explicação "jornalística" que segue é um claro exemplo de sensacionalismo e total falta de informação sobre os games em questão. "(...) os investigadores conseguiram rastrear um blog feito por Wellington, que usava a página na Internet para disseminar mensagens desconexas sobre religião e jogos como GTA e Counter Strike (CS), onde o jogador municia a arma com auxílio de um Speed Loader, um carregador rápido para revólveres, usado por ele no massacre de alunos na Escola Municipal Tasso da Silveira. Nos dois jogos, acumula mais pontos quem matar mulheres, crianças e idosos", diz o trecho da matéria.

Pra qualquer um que tem um senso de crítica um pouco mais apurado, entende que as informações são equivocadas e tendem a encontrar um motivo para o massacre. A simples explicação de que não houve motivo "pão e circo" para o ataque ou, que nunca será descoberto, não satisfaz a mídia. Lembremos que, além dos games, nessa semana, tiveram também o bullying, o islamismo e o "isolamento" do atirador. Outra questão, levantada pelos sites de games Gizmodo e Kotaku, é que, simplesmente, a informação sobre os jogos está errada. Não existiria Speed Loader no Countyer Strike e muito menos matar mulheres, crianças e idosos acumularia pontos nos jogos.

Em outra matéria, publicada pela Veja, os depoimentos dos personagens também fazem alusão à vida reservada de Wellington e sua ligação com os jogos online. "A infância de Wellington aconteceu quase inteira dentro de casa. A vizinha de muro Deise dos Santos, de 59 anos, consegue ver a casa onde Wellington passou a infância e a adolescência. 'Ele brincava no quintal, sozinho', conta. Mais velho, ele descobriu a internet e, a partir daí, formou-se de vez o seu casulo. Na Rua Jequitinhonha, Guilherme Boniole, de 28 anos, foi o único que disse que conversava com Wellington, principalmente quando os dois eram testemunhas de Jeová. 'Falávamos sobre jogos de computador. Ele gostava de Counter Strike (jogo de tiros)', revela Guilherme", diz o trecho da reportagem.

Mesmo com a explicação pífia e tendenciosa sobre o jogo, essa informação acrescenta ao perfil do atirador. Para os mais xiitas que pensam que a mídia culpa jogos eletrônicos por qualquer massacre ocorrido no mundo, deve reconhecer que, se um assassino tem a presença frequente em jogos violentos, isso é um traço de seu caráter. Ninguém pode garantir que o game teve influência em suas ações. Mas também ninguém pode dizer que não teve.

O errado é jogar a culpa em um jogo eletrônico e penalizar toda uma geração, conforme Projeto de Lei 7320/10, de autoria do deputado Alfredo Kaefer (PSDB-PR), que tramita na Câmara Federal. Nele estão previstas a proibição da produção, da importação, da comercialização e da locação de jogos com cenas de nudez, sexo, pedofilia, violência ou apologia a crimes. Segundo a Info Online, o autor argumentou que os videogames violentos podem estar formando uma geração de pessoas "insensíveis ao sofrimento".

Queria ver um deputado proibir as cenas de nudez e violência no cinema brasileiro, novelas, programas de auditório e programas policiais sensacionalistas. Ou mesmo tentar barrar a entrada de filmes hollywoodianos com essas características no Brasil.

Confira alguns casos em que os games foram culpados por ações criminosas:

Câmara fecha o cerco contra games violentos
A construção de um monstro: na infância, humilhações e solidão; na juventude, jogos de tiro no computador
GTA é proibido em todo o mundo, segundo determina liminar brasileira
Army os Two estimulando encontros homossexuais
Projeto de Lei do Senado n° 170/06 volta a ameaçar os video games no Brasil
Counter Strike e Everquest estão proibidos no Brasil
Mídia culpa propagandas de GTA IV por assassinatos em Chicago
TV Record acusa games de propagar a violência 
Governo Venezuelano culpa Games por violência e bane jogos com armas do país

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